Traduzido por Ana Valéria Matos
Dilema: o que é (e o que não é)
Em 2009, o povo iraniano subiu nos seus telhados para gritar 'Allah Akbar' (Deus é grande) como protesto contra o regime. Como resposta, o governo tinha duas escolhas, nenhuma muito agradável: deixar os protestos continuarem de forma livre (e possivelmente crescerem), ou prender pessoas e tentar justificar proibir pessoas de gritar 'Deus é Grande', algo que é comum entre Mulçumanos devotos. Este protesto é um exemplo de uma ação de dilema.
Uma ação de dilema deixa o oponente sem nenhuma 'melhor escolha' evidente - cada escolha possível tem aspectos negativos significantes. Até mesmo a reação mais favorável do oponente, terá uma mistura de vantagens e desvantagens que não são diretamente comparáveis quando avaliadas no momento ou posteriormente. Muitas ações não-violentas são reações ao que autoridades ou multinacionais fazem: ativistas respondem a situações criadas por outros. Em uma situação de dilema, ativistas são proativos.
A maioria das ações de não-violência não impõem um dilema. Pense numa manifestação comum de interesse social, como um protesto antiguerra no Dia de Hiroshima dentro de uma democracia liberal; autoridades podem tolerar ou até facilitar o evento, pois este apresenta pouca ameaça a interesses declarados, enquanto bani-lo serviria apenas para despertar um antagonismo desnecessário. Algumas formas de desobediência civil, como ações de antiarmamento ligadas a danificação de equipamento militar, também não apresentam um dilema, porque as autoridades sabem exatamente o que fazer: prender os ativistas, que voluntariamente se entregam para a polícia. Todavia, acreditamos que é mais útil pensar em ações de dilema como uma questão de nível e não como presente ou ausente. Ações de dilema proporcionam a oportunidade de aumentar a eficácia de estratégias de ações não-violentas. Saber mais sobre a dinâmica de ações de dilema, pode ensinar aos ativistas a planejar suas ações de maneira que elas apresentem dilemas complexos para seus oponentes, levando-os a tomar decisões impopulares ou perder tempo se preparando para diversas possíveis reações.
Criando um dilema
Além da característica principal de uma ação de dilema, cinco fatores que aumentam a dificuldade de escolha dos oponentes podem ser encontrados frequentemente em ações de dilema.
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A ação tem um elemento construtivo e positivo, como ajuda humanitária ou expressão de compromisso religioso, assim como aconteceu no Irã em 2009.
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Ativistas fazem uso da surpresa ou da imprevisibilidade, com a invenção de um novo método ou aparecendo em lugares totalmente inesperados.
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As escolhas principais dos oponentes pertencem a diferentes domínios (políticos, social, pessoal), o que significa que é difícil fazer comparação entre as escolhas. Por exemplo, quando um policial tem que escolher entre prender ou não um amigo durante um protesto, existe um conflito entre o domínio econômico (manter o emprego) e o interpessoal (manter o amigo).
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Ações de dilema podem ser programadas para atrair a atenção de meios de comunicação em massa.
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Uma ação de dilema pode apelar para crenças muito sustentadas dentro da sociedade. O compromisso religioso aparente nos protestantes presentes nos telhados no Irã é um bom exemplo.
Estes fatores contribuem para que o dilema seja mais difícil de ser "resolvido", mas não são essenciais para a construção de tal. Governos e seus agentes - como a polícia e os agentes penitenciários - são constantemente os obrigados a lidar com dilemas. No entanto, esta não é um elemento principal de uma ação de dilema, já que pode ser direcionada a empresas privadas, como bancos e corporações.
A resposta do oponente
Normalmente, a melhor opção para o oponente é parar a ação sem que ninguém perceba - logo, a estratégia dos ativistas deve ser torná-la o mais pública o possível. Algo que pode dificultar uma ação de dilema é quando o oponente tem que comparar consequências de domínios distintos; pode ser difícil ter que comparar o benefício de uma reação positiva de apoiadores, com um retorno negativo de outro grupo. No estudo de caso Freedom Flotilla, autoridades Israelitas tiveram que lidar tanto com o povo nativo quanto com o público internacional. Eles escolheram priorizar a imagem doméstica, onde eles foram vistos como responsáveis por criar um bloqueio que estaria protegendo Israel de um ataque terrorista. Foi difícil comparar os benefícios de manter essa imagem nacional, com os efeitos negativos da revolta gerada quando o público estrangeiro considerou a reação militar um abuso desnecessário a trabalhadores da ajuda humanitária em águas internacionais.
Para ativistas, ações de dilema podem parecer atraentes pois elas propõem a possibilidade de sucesso independente das escolhas do oponente. Contudo, a criação de dilemas para o oponente não é necessária para que ações não-violentas sejam bem-sucedidas e assim como todas as outras estratégias, deve ser usada com cautela.
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